sábado, janeiro 28, 2006


Benvinda

Enfim, Caminhou calmamente.
Turbilhão de imagens, cheiros,sons... e calmamente atravessou o cruzamento, braços impensados,pernas e pés agüentando sem importância o impacto com a terra. A cabeça como leme, apenas indicava a direção, no fundo os olhos, bem no fundo o pensar...velho.
Desviou suavemente das trombadas de estranhos, dos ruídos inaudíveis, do cemitério que divide a cidade, desviou também das gentes, todas elas,que se amontoam em busca não sei de quê.
Num passo lento afastou-se do ponto Z (barzinho mais famoso),da biblioteca na beira do cais, do mercado do peixe, ao lado da praça Xavier dos quase amores, afastou-se de outras praças também... desviou do farol da barra,das vagonetas,trilhos, onde pensava nas vezes da infância, vento salgado, sol multicolor rajando as tardes de quase primavera, das conchas quebradas,do barulho que faz o mar em ressaca no finalzinho da tarde ,do navio encalhado, de outros que passeavam lá longe,bem longe os olhos, da extensão interminável de areia escura, das dunas móveis, das mães d’água na beira da praia, queimando de vermelho-dor as peles, das pegadas indefiníveis na borda do mar...afastou-se também dos prédios; municipais,estaduais, federais, da construção portuguesa-espanhola-francesa, do mais caminhado canalete de Hortênsias, trecho que passava pelo teatro municipal e levava até a antiga viação férrea, que levava até o museu que levava até o inacabado teatro de arena... afastou-se gentilmente da casinha-mãe, no final da rua José de Alencar paralela com a Castro Alves que levava até a lagoa dos patos, onde flutuava solitária a ilha da pólvora, ponto estratégico de artilharia durante a guerra...que levava até o oceano atlântico, que levava até tantos outros ... afastou-se de outras casas também, aquela de telhados laranja e portas azuis...aquela com um portãozinho de ferro,que tem uma porta de entrada com uma janela bem no centro, aquela em que ...
Afastou-se...da festa do mar dos anos pares , na Marechal Floriano com Andradas, que sempre insistia em transformar o cais do porto em Disneylândia para turistas, o barco gastronômico quase sempre afundava, os fogos não ascendiam, as apresentações da orquestra a céu aberto,sempre era surpreendida com nossa tão previsível chuva-fina, regada com uma indescritível revoada de folhas de outono, se afastou dos monumentos desses heróis duvidosos, estátuas da padroeira da cidade, versões e versões em busca da mais perfeita Iemanjá, do kitsch nos adornos, do poético de contrastes, dos arautos na madrugada,das roupas simetricamente colocadas no varal, dos olhares efêmeros,dos afrescos nas fachadas,dos cantos na reserva do Taim, das torres imprevisíveis da igreja, do sótão do teatro...primeiro amor,dos bambuzais, das oliveiras, das vinhas- macieiras- mangueiras, figueiras centenárias , do céu que sempre há o que se ver, do rebojo, do minuano uivante, das milongas,caturritas,gurias,piás, tardes de chimarrão e histórias de boitatá,
dos cachorros simpáticos que corriam pelo calçadão da cidade em busca de aconchego, do coreto e seus sarais poéticos, que invadiam portas e janelas próximas, da doceria guarani...
Afastou-se desse lugar que se forma e se devora, dessa cidade quase ilha, desse porto de conformistas, desse desejo incontrolável de mundo, dessa forma cartesiana de fruir a si mesmo, ao outro, a cidade, o continente, a extensão de terra, o mar, as histórias, o vento, as figueiras, dessa maneira imortal de alimentar-se somente das próprias vontades, desse desejo pueril de querer se unir, quando a necessidade primeira é ser só.
Afastou-se pela avenida principal, aquela que leva até o arco escrito
“Boa viagem” e foi-se.

segunda-feira, janeiro 23, 2006

...pequenas doses...



Take all your confusion for yourself
This is generosity

domingo, janeiro 22, 2006

...pequenas doses...


Uma andorinha só
Só faz monólogo

...pequenas doses...


A noite todos os gatos empardecem...

...pequenas doses...


Destampados os olhos resta o abismo
senhor de duas e infinitas faces...
Que eu não tenha medo.

sábado, janeiro 21, 2006

...pequenas doses...



Aumento tudo.
Tudo bem, eu minto.

sexta-feira, janeiro 20, 2006


Para esquecer

A proximidade das coisas
Imóvel
Contra vento
Estúpida rotina
Tornando-se insuportável
Não existe...
O ponto final
Na verdade
Quebrando o solo gelado com pegadas sem propósito
Enredando-me nas folhas,tem pontas e teias...
Cadê a trilha?
Não sei usar facão!
A queda nas geleiras
O córrego se estabiliza é bem desenhado não acha?
Corpo e terra se confundem
Haste do fogão prende meu dedo
Pesadelos:
Eu massageando as vértebras de Almodóvar...
Que papelão ele nem sabe!
Não poderia continuar assim..
Yolande
Inclinava a cabeça sorria
Só seu corpo interessava
NÃO importa
Lince!
Atravessei a fronteira
Aldeia de lugar sem importância
Um homem aparecia
Eu não gostava dele
Ele parecia Pai
Não tem perdão...
Coloquei os óculos
Acelerei bem alegrinha
Fui em direção ao por- do- sol
Um braço como pêndulo
Ranhuras
Parece que vai começar a chover...
Acima das minhas mãos o ar tomou cor
Faz um vôo obliquo mas desesperado os olhos
Minha vida atual me assalta
O vidro a imagem no vidro
Nunca prendi passarinhos não...
Nunca afoguei os peixes com ar...
A névoa no banho ...o espelho nubla minha não imagem

Banheiro : local para desabafar ,é preciso água gelada!

Quando ela me levou na casa dela, vestida a vermelho, eu não me colori, perto do bar as bebidas as fotografias livros com histórias,eu abri uma enquanto ela sumiu no quarto, o altar no canto preservando delicadas simpatias e incensos, um cheiro conhecido me atormenta, a superfície de apoio e almofadas, ela convida ao passeio,ela é saga sem fim, eu tenho validade...suspirei na frente dela,nem viu estava contando e vivendo justo na hora,vou ter que repetir, será que ela vai descobrir minha cara deslavada, decidi nem rugir,só inclinei em concordância,fui sincera,como nunca... tive um encontro desmascarado e vi o real dentro do peito,não suporto ... Falou-me das luzes ,do sagrado sem formas e fomos ao mesmo ponto em épocas diferentes ...mentira, eu nunca cheguei naquele ponto de descascar em plena luz do dia ,nem tive companhia que me enlevasse e afundasse comigo naquela queda-d'água meia- noite e então mudou o ano chovia eu escrevi uma trajetória precária com um risinho que passou...
Ela voltou de neblina chorava engasgando tremia eu eu disse eu acampei longe dos homens naquela noite eu lembro das bromélias e taioba eu lembro da manhã que parti senti falta de alguma coisa... ela estava chegando eu partindo nem nos cruzamos apenas o som fez o meu corpo despertar e lembrei do que esqueci...
Tobias
Brindou ofegante e sem exitar me absorveu aflito e indelicado.
Vamos dormir e esquecer a hora
Dalibor
Pavel
Vou ao bar freqüentemente
Toco percussão improvisando sobre lusco-fusco
“Pontos de vista”
Tudo bem eu paro.
Discussões sobre as três Marias e pirâmides e noticias da guerra e tento com as mulheres,não dá, todas querem decorar a casa e volto para os homens discussões sobre a impossibilidade,falta ,deficiência do sistema ,porque antes a subsistência era... até que me interessa, mas não agora.
Me beija
Quero
Ir para a costa azul
Eu e o pássaro azucrinado
Veja bem querida...
Blue tree towers
Intercity Express
Vigário José Inácio
Grande hotel Master
Everest?
Bairro da tristeza cartão postal...
Tropical Business? Uma boa pedida...
O QUÊ?
...Abriu temporada mais fecha sáb/dom
Não vai dar eu fecho na segunda e não sei não sei não sei se ou quando abro!
Reflexos
Feixes de um ensolarar indesejado
Não pretendo de onde estou... exausta cubro a face
Ocupo-me de xícara e cigarro , combinam com as mãos
Eu aqui ,sem saber dos girassóis
Olhos risonhos
Rã-das-moitas
Reaproximamos
Janek

Era outono, dourava as folhas eu te cobria de tudo o que eu tinha...Era aquilo mesmo que eu tinha...
Borba
Meu guia no Hades circulamos juntos em preciosa cadência...ainda hoje sempre...
Haroldo que inferno:
Esfaqueei por me perseguir, foi mal !
Bati o carro nos trilhos, não sobrou nada, nem eu...
Atirei-me no canal e trombei com um comboio da mancha
Amanheci na valeta do estreito que levava até o mar
Os cogumelos ...são eles ...
Sequoia giganteum da Serra Nevada
Eu disse que só tem no norte da Califórnia ao Sul do
Oregon ...
Bebi um pouco estou destilada
Estou quero dizer
Estou querendo dizer
Estou aberta de Coníferas
De Araucária e pinho Bravo
Não sei se consigo me imaginar uma Sequoia porque ela está tão longe de mim...
Sobreposição de mim em escalas, é bem divertida mim em agonia eu sei fazer rir sei fazer gostar até ser profunda sei e posso aprendo rápido apreendo nefário animalesco varão em mim...
Magnólia acuminata
É ela de novo...
Lá vamos nós
Por que está tão hostil?
Larguei-me em um passo imbecil de dança
Revi as fotos...não vai dar...
Falta de espaço, não sou objetiva, me deixa
...vem comigo... M E A C E I T A eu suspiro sem auxílio eu repouso eu estendo a nuca fico reta inteira não fecho mais pra balanço não falo mais “Na verdade” sorrio franca posso ser gentil de verdade bem não quis dizer no sentido de dizer “na verdade” e sim de ser sincera não não me repito consigo me expressar normal e pausadamente...Quem não consegue... às vezes não, pra te dizer aberta às vezes não...Vem comigo?
Quis impressionar...olha como eu te agrado ...
Que situação!
Macular
Nunca me confessei que bobagem!
Confins
Eu perdi um mês dormindo quem foi que me contou da queda?
Tragacanto
Levei de dois , quatro, há uns anos para poetizar-me
Lepidóptero
Vide bula... Tenho asas nos cílios...acabei de descobrir...
Pedregulho
Seixo
Gelado
Não conheço a neve...
Trágico extraordinário
Artifícios repousam na íris por isso choro fogos artifícios repousam na íris por isso choro fogos artifícios repousam na íris
Senti saudades...

“Em breve” diz no cartaz...

Estou procurando o que passou agora, você viu?
É segredo?
Até pra mim?
Nós temos fábula
Eu nunca soube da tua decisão de me esquecer, NISSO você foi bem por baixo
De repente eu estou te dizendo que somos inimigos...tudo bem ?
O telefone eu não atendo deixa tocar deixa pra lá não quero Não tenho mãos não tenho secretária não...
SEM dúvida!
Roçamos a face violenta de tanto sentir
Deslumbramento?
O que significam essas palavras?
Entre as ondas...mas o mar está longe...Tudo é candura
Topo
Roxas nós caímos toras e destroços no chão
Teu casco no meu ombro tem gravitação
Percebestes o meu vácuo
Isso, encolhe que eu morro, não percebes o tamanho de ti em mim?
Nem eu...É E M B U S T E...contrai.
A procura da imagem
Estou entrando entro sem pedir licença...
Alojei-me nos teus escombros
Teu tocar sensato
Afundei em olheiras
Encosto sem sabor
Porque bruma?
A sétima possibilidade você espumava...
A música continua...
porque ninguém ouve?



Retrato a lápis

Fechado num quartinho
passou os desencantos...
Deu uma prova convincente de que ainda estava sóbrio para viver entre outros.
Apenas sobreviveu quando os dias medonhos chegaram
Para que ninguém perturbasse as suas experiências
Sobreviveu
Era essa a sua maneira de insurgir
Mas a debandada maior foi à descoberta de que estaria eternamente só.
Isso jamais teria cura nem afago que chegasse.
Estaria só e pronto.
Verdade?
Não, nem tudo.
Dificuldade de ser isso.
Os outros e os nós ficaram mais apertados
Curvando recuo...
agora sou eu?
Não, não assumo conseqüências.
Prefiro os berros os safanões as vezes de cara amarrada prefiro ser urbano medonho cheio de cacos e folhas e faces distorcidas e sinto fome e morro de desejo tarde da noite por quem eu nem sei.
Nem mesmo percebo se os dias de agora são tão diferentes dos que eu já vivi.
Uma...
a minha cabeça está a prêmio.
Que luta essa que eu já venci e vencido me desfaço?
Para quem ou pelo o quê devo apelar?
Repenso e te adoro e você já não é você e continuo querendo adorar o que eu não tenho capacidade de ser.
Envolva-me lenta e decididamente, enlaça teus braços entorno dessa minha destemperança, eu degelo fácil sem muita demanda, prometo ser objetivo, há tempos que eu quero dizer isso: Não quero falar, ser sociável, olhar olho no olho com ares de quem pensa alguma coisa, do que eu faço quando não estou fazendo nada muito concreto do meu tempo, eu só quero o que me toca, só.
É só meu amor.
Só assim...
mas eu quero partir para a efetivação
Quero a carne o osso
Faço das tripas o coração
Enredo sem desfecho
Quero ser a ferida
Descartar, embaralhar
ser incurável
Jogar o jogo que nunca se quer jogar, mas se joga e não é justo.
Quero ter experiências e isso é o fundo inadequado de todos os mitos
quero ir ...
Dar de mim
Dedicar inspirado algo que tenha verdade
Sair e voltar e ficar e partir com quantos calos forem necessários para se ter isso: Vida.

terça-feira, janeiro 17, 2006

...pequenas doses...

Engoli a seco
Parece mesmo que eu sou assim
Tão liberal?

segunda-feira, janeiro 16, 2006

...pequenas doses...



...Assim que puder darei sinal de vida.

sábado, janeiro 14, 2006


Eu fingi o órgão
Estirei a garganta
Fiz o teste do pezinho
Criei calos para impressionar
Juro
Tentei uma profissão
Mudar de cidade
Levantei a crina
Fiz um rabo de cavalo
Não adotei os mandamentos
Fui homem-mulher de uma vez só
Tentei a morte
Vesti as sete cores
Tombei de bêbada
Disse mentiras sempre que pude não dizer nada
Afastei os insetos com uma lambida e servi o jantar:
Tudo bem fresquinho

sexta-feira, janeiro 13, 2006


Em ti
Vejo
carnívoras

Diz-me assim: Começaremos nossa digressão
Abre a boca e deixa de dentro sair às águas procura teu lugar de poder nos arredores do meu eu experimento não eu nomeio o doce agudo sigiloso estou te adorando e me valho da tua imparcialidade para aflorar essencial e excessiva que se desdobra despudoradamente denúncia aceitável um simples e difícil sim seria brutal eu marca traumática de negações sofreria o espanto então te quero remoto e extenso sujeito repetitivamente ocupado impõe a si o outro A outra então encontra Quem se encarregue de adorá-la travestida provisoriamente voraz contribui às idealizações que os afastam cada vez mais agora mais embrutecidos a tonalidade mais difusa impera o mal estar à estranheza que habita em seres muito próximos Que compromisso tem hoje e com que? O fio foi se desenrolando e traçou labirinto Ele contabiliza o prejuízo do negócio não fechado da queda do dólar do preço de compra de venda da falta de renda a queda é brutal e não é bem vinda A retração da moeda escuta o que eu te digo o aumento do custo da matéria-prima pode prejudicar a valorização aumento do capital proteção contra desvalorização do dinheiro liquidez rápida disponibilidade do dinheiro escuta você me escuta: têm que assumir o impacto da queda o lado positivo da queda é o que posso te dizer mas posso te relembrar de como éramos posso? Não não tenho o que formular para dar conta dessa nova feição como éramos é um retrato estanque como somos é o que não consigo acessar o que se tem então para dizer? Porque capazes somos de transmutar como um grito estacado no ar foi à recusa do que podemos e deparamos naturezas Tal como em suas mais remotas fundações com o desafio de penetrar o enigmático mas Uma vaga culpa nos invade porque não nos basta à alegria
O contato com o que é genuíno trágica humanidade a falta do si mesmo o pano de fundo do dilema viabiliza ser independente de si Aí surge o sujeito na sua obstinação a um destino apavorante e imbatível trançando dia-a-dia os elementos da própria doença sinistra realidade de existir reinventando-se através de discursos trabalho contínuo de recomposição luta pela reestruturação interna.... Traduzida EU assim em suas palavras De um jeito ou de outro ninguém sente esses laços apertados para sempre.



Lavo o rosto
Mas não adianta
As mãos não desfiguram
Falta-me aquela não realidade
Tento um suicídio programado
As mãos em concha
A banheira fumegante convida a viagem
Entro em ebulição
Respiro fundo
Encho de água a concha
O rosto dentro da concha cheia
Debate-se
Água escorre entre os dedos
Sobra eu em minhas mãos

...pequenas doses...



Que vontade de te dizer umas barbaridades.
Eu não posso fazer nada...
É que se eu te dissesse fica, eu também teria que ficar.


Ela loira de olhos azuis
Ele azul de olhos loiros

Como se estivessem em plena forma física de ser vivo que acaba de descobrir a ordem natural de uma única existência, afinal eles eram apenas dois seres mortais em busca.
O ser do ser dela era calmo o ser do ser dentro dele já estava há algum tempo em discordância. Ele diria com um ar atônito e impassível: Tudo bem! Enquanto ela que exibia orgulhosa sua forma cristalina de quem já se encontrou pelo menos uma vez na infância diria: Como? E assim atravessariam um pelo outro sem mínimo contato, sem o mínimo.
Porque se o pacto social de se cumprimentar não é selado as pessoas logo se revelam em reais encontros. Ele disse sim não Ela. Ela fez o pequeníssimo movimento que se faz quando se começa a sentir o outro estrangular o próprio espaço-tempo. Ela loira sorriu inteira e fechou seu par de olhos azuis.
Ele todo era um acontecimento que se negava, era bonito, mas era azul e sua doçura quase sempre era um ataque. Sofria e passava e fugia e se tornava grave difuso extraordinário, porque o tempo todo sua leveza era sua salvaguarda, seria logo logo imune aos percalços da vida, senti-se cada vez mais pleno de algo que não...Como eu posso explicar...Algo que vem de quem chega no fundo. Era um indivíduo dentro de um corpo que vibra com qualquer contato, ela já tinha experimentado tocar-lhe a face numa certa vez, como se estivesse reparando na textura da pele dele e no toque dela ele que continuava a ser azul, se esquivou porque era azul. Mas a sensação do que ela sentira ao tocar-lhe lhe deu o motivo do amor, porque sempre havia pensado que amar era assim quase sem querer, assim como se estivesse andando numa rua que sempre evitou passar e desprevenida de repente fosse acertada com o olhar de um estranho que invadiria a sua existência pra sempre, que arrebataria fulminante certeiro o peito... Por enquanto só sofrera olhares sensatos, comportados, mas seguia sua trajetória sedenta daquela visão.
Ninguém saberia dizer o que um via no outro, primeiro porque não ousavam comentar o assunto,estavam ocupados demais em construir a partir de si a própria vida, isso já era trabalhoso o suficiente, mas ele azul de olhos loiros assim me olhando só podia ser um presságio,e ela que não para de me olhar deve estar enxergando o que eu não quero... Ela com seus olhos azuis via tudo azul, até a ela mesma.
Então o que há de mal em ser azul?
Será que ele via tudo loiro?

quinta-feira, janeiro 12, 2006

Diletantes ou invernada da vida

Diz
“Apenas uma única vez”
Apenas assim:
Estranhos...
Faz de conta que somos assim
Cheios de vida-Morte
Aceita?
O aparecimento...
Não tinha muito o quê te dizer...
E por isso mesmo fiz questão...disse
Que - bom - tudo - todo –você - assim - agora - sendo - na - minha – vida
Meio desconcatenada
Remoí por dentro
Brega?
Fui...
Cheia de vícios na língua
Muitos insolúveis
Olhei em volta e vi seu olhar de farol neblina acessível liso com visão nevoenta, mas alinhado.
Você por todos os lados
Eu
Murchando pouco a muito
lasciva
áspera
Estreita
Equivocadamente à vontade
Porque você me alarga e eu me sinto dentro
Procuro um abrigo teu peito um sinal
Socorro eu preciso de.
Um grito.
É do que eu tenho medo.
Eu escancarei desde a base
Nem notei que fui excessiva-obsessiva-compulsiva
Só queria experimentar
No sonho que eu não te contei...eu fiz barbaridades
Mas antes de sentir eu já tinha doído
Como pode ser?
E já era lua cheia
E já era alto da montanha
Todas as estações congeladas numa única imagem
Indescritível
Depois asfalto terra morta poeira seca tua mão de passagem passeia tépida
Eu flutuei assim...
Errático sonho desregular que não acontece sempre.
Encrespando a crina
Eu segui
Ainda sem coragem de te dizer
Entre uma garfada e outra
Meu prato esfriando e eu sem pulso
Perguntando-te meio afetada coisas e detalhes...
Sorrindo-te sem jeito
Que é o meu melhor
Não sei ser mas vou sendo
Não sei se é porque me reflito tão bem nesse teu agora que já nem sei quem é quem...
E te vejo
Ou não te vejo?
Vejo o quê? A mim?
Quando virás? Ou deveria dizer: Quando viremos?
Se for chegada a hora... Nós em pleno descobrimento das individualidades...
Parece franco demais?
É que ainda tenho muitos dedos de me chegar em ti-mim...
Tenho um abraço que agora eu tenho certeza que é só teu.
Toma
Lembra dele nos teus momentos...Isso é permitido!
Não tenho muito tempo
Mas tenho agora
Assim: Um no outro
Boca e olhos
Porque são entradas d’alma
Sem medo...
Não teremos essa carne toda, ela não tem profundidade que nos alcance como somos... Vem fica a vontade à casca é tua
Estou me distraindo enquanto falo...
Costumo ir e vir...
Não sei como isso pode ser habitual!
Agora mesmo eu “ir” não teve significado...
Nos estenderemos na imensidão de um choque
Esse que já foi dado
Olhando baixo curvo torto inteiro direto
Venha de óculos
Assim mesmo menino!
Com a curva acentuada na boca
As palavras estalando dentro do peito
Com aparência de quem acabou de tomar um sussurro forte
E um desejo incontrolável de mudar a cada instante
Derramando de forças rubras escuras e frágeis
Toca o solo e a alma nas mãos
Esquerda e direita
Lembra?
Duas efêmeras em comunhão
Te vejo sim agudo de mimoso
Sendo o oposto dos predicados convencionais
Que se dane a falta que os outros trazem!
Deixa levar sempre estes pedaços de ti
O teu predicado é um verbo
Que sem alcançar compreendas
Assim mesmo
Sem ter o quê.
Resta pouco de cada um dos teus fios
Lança eles porta afora
Que eles invadam a cidade o planeta a cobertura do mundo se enleve para além das compreensões estáveis e dedutíveis...
Doar é estar convicto de que já não é necessário ter.
Doar é assim, de mansinho, geralmente pela manhã, sem esperar nada se não a própria coisa nenhuma.
Que não será necessário nada além... Desenlace.
Eu não terei muito tempo
Então me dia amor! Isso mesmo ME DIA...
Façamos assim: Em silêncio todos os ruídos necessários para abrirmos todas as portas...
Faz assim:
Toma de tudo um pouco
Se te servir.

...pequenas doses...


E oque é que eu procuro afinal?


Só em ser

Pensei sério no que poderia ser.
Tentei me organizar como qualquer um faria. Tenho uma mente incansável, precisa de ordem para respirar.
Pensei nitidamente, coisa que me é sempre turva, apesar de não querer que seja assim, sou. Reorganizei o que dizer por ordem de importância... Desisti.
O que tem importância? Fui para o momento do encontro, o fatídico momento do querer pra mim. Eu não quis aquilo, eu não quis o beijo, mas o beijo aconteceu, então eu comecei a querê-lo como meu, mas o beijo e tudo o que vem depois não se pode ter então o que se pode?
Ouvi dizer, nesse tempo em que a gente vive hoje, que se pode ter tudo o que não se poderia ter nos tempos passados, porque hoje é o tempo moderno, o tempo em que não somos reprimidas porque usamos saias curtas, não somos apedrejadas quando amamos os iguais e lemos com freqüência dizeres de magia.
Relembrei que me entreguei por um desejo de me sentir desejosa e não foi prazerosa a violência da entrega sem os fios do amor, eu fiquei paralisando enquanto as carnes se rebatiam como quando tentamos arrancar do outro o que o outro não é. Mas como nunca digo “não” na hora em que sou invadida por ignorar minha natureza, deixei que esse encontro fosse nosso segredo, que fosse nossa forma de rebeldia-libertária, como se eu pudesse me vingar da forma...
Pré-histórica como penso que seja o amor e seus fios que me destroçam, eu quis quero não ter os fios.
Levei tempo e tempo me levou até a descoberta do fim.
Pensei nos ciclos e nas historias que se repetem e repetem e repetem...
O que eu não deixo acabar eu aprisiono e me aprisiono lá... No outro.
Quantos outros eu mantenho aqui dentro?
Quando o barco está sobrecarregando é que se pensa em como sobreviver com ou sem a carga. Sou apegada ao apego então me diz quantos quilômetros eu corri até chegar onde?
Estou trancada na vasta perplexidade da tua influência intranqüila, do teu medo de me encontrar novamente,
O que é? O que está ai?
Quando o calar aconteceu entre-nós eu pensei em fazer o possível dentro do que sinto impossível e me perdi...
Porque a natureza do teu silencio foi ruidosa e terrível demais.
Continuar a viver a ser a existir.
Degolando falas, emudeces.
Eu e tu não soamos mais.
E a recusa dos fios formam a casca, o corpo.
Parece que calas enquanto existo sem trégua.
E eu já não sei.
Faz tanto tempo que não.

Eu estava vivendo bem no mundo.
Tudo ia conforme o programado.
Eu já tinha emprego um amor uma casa um carro gatos uma azaléia um canteiro várias samambaias que ornam bem nas sombras e uma estante cheia de livros já tinha escrito um livro já tinha alguns amigos que eu poderia chamar de amigos tinha relações estáveis já sabia tudo sobre economia-orçamento-capital-custo-imposto-cortar gastos-poesia-cozinha tinha uma certa generosidade comigo com o próximo com qualquer um já tinha tomado decisões importantes outras nem tanto já sabia que era mortal já havia confirmado que não existe somente isso que vejo daqui já era assim já não era e tudo bem já era até bem alegre as vezes até bonita já era alguém eu não resisto mas continuo...Alguém...
Alguém vive entre os mundos?

Eu me fecho me enrolo me entro vou vou dentro e saio e me irrito e tenho apego não e também digo tudo tudo está muito bem e dizendo mentiras sou a melhor de todas e invisto no sorriso pro lado e abro bem a risada com dentes cortes afiados e te digo assim vem e te afasto sem exitância e descruzo e vomito e peço o cardápio e peço desculpa e olho de canto um reflexo no copo que brilha e enjôo com o vai e vem da vida e me recolho quero ser aceita e num embalo de ninar a mim mesma não tenho expressão nem vontade estou mole ouvindo Rorô estou quebrando bares sou escandalosa profética picareta vaso ruim não eu não sou fiel nunca fui não vai ser agora eu disse que ia chover eu demais eu imploro me nego a continuar vivendo neste frio juro eu quero lançar mão mas passo a passo atravesso o rio sem afundar.

...pequenas doses...


Encontro no salão

-...Seria melhor ninguém ter cutículas!

Eu disse de canto.

- Não acho não.

A manicure me retruca meio magoada.

e continua...

O que seria de mim dona Daniela?

Eu disse:

O que seria de você...

quarta-feira, janeiro 11, 2006

...pequenas doses...


Quando a gente gosta de alguém que não gosta da gente como a gente gostaria de ser gostado a gente pega e desgosta de tudo...
Que tipo de gente a gente é?

terça-feira, janeiro 10, 2006

...pequenas doses...


Estou sobrevivendo
Apesar do panorama mundial


Será simples e sem complicação.
Era essa a frase.
Mas como? Como poderia dizer...Pensei que a pergunta correta a ser feita seria: Quando?
Quando poderia dizer? Na velhice eu tentaria o simples...
Arrisquei: Eu sou simples, tu és simples, mas ele não é simples, nós nunca fomos simples...Parece que tudo no mundo, tudo, tudo, tudo... Tudo o que arquitetamos não tem profundeza.Não para quem não agüenta o impacto de sentir no corpo o veneno das metrópoles.É estou amargando por aí, já há algum tempo... Acabei de assumir minha clandestinidade.
E lembrei de um momento...Quando eu parei de conter, quando eu parei de procurar, quando eu parei de querer, quando eu parei.
Parado ali...Ali mesmo, no tempo, e o tempo parou comigo, o tempo não prosseguiu, o tempo era meu aliado.Eu tinha um tempo só meu... Enquanto as pessoas viviam aquele outro tempo, eu simplesmente entendi o meu próprio ritmo no tempo...Isso me calou e comoveu. Pude por um longo período me encantar com a idéia...Eu teria que mudar-relaxar na vida, principalmente uma coisa: Eu não teria que me adaptar a nada e a ninguém... Não sentiria solidão, porque estaria completo, seria um dentro do próprio tempo.
Mas o ser bucólico que me condena a margem se pôs a falar...E se eu não te amar?
Retalhado
A beira da cidade
Introspectivo
Esperando respostas
Colapsado
Foge de medo
Eu quis
Eu
Ser amado
Eu queria ser
Eu
e Eu não estão se dando muito bem.
Procuro o que?
Fui afundado
Não pude ir além
Tremi até os ossos
Vi o tamanho do corpo fora do corpo
Vaguei um bom tempo não sendo
Eu sendo outro
Perdi os contornos os sentidos a profundidade
Procurei meus aliados
Mas estava completamente só
Mas estava completamente só
Estava assim
Não-definido
Sem comando
E disse com a voz
Tudo bem
Estava vivo porque respirava
Mas não me comportava como se estivesse dentro do corpo
Não me comportava
Deslizei os olhos na boca a boca na testa a testa nos cabelos
Os cabelos escureceram meu peito
Do meu íntimo um leque entrava e saia
Fatiando a minha carcaça me mostrando órgãos
Eu procurava a língua os dentes
As texturas
Superfícies de apoio
Qualquer concreto
O teto não segura a noite lá fora
O teto se evapora junto com pessoas
Eu não evaporo
Eu embaralho
Enquanto não penso posso voar
Vejo de longe os emaranhados da vida
Da minha vida
Mudarei
Mudarei agora antes antes de desistir
Mas o vento sopra...
Eu ainda débil permaneço em suspensão...tempo
E descubro que não estou sendo
E te deixo ir embora assim... Deixo-te ir seja lá quem estiver te deixo
Não quero fazer parte dos que procuram eternamente
Eu posso aportar?

Pulamos o enredo? Na verdade não.


Pulamos o enredo?
Na verdade, não.

Era para ser uma carta.
Era, para nesta carta estarem escritas coisas sobre o amor.
Era.
Era tão previsível que nessa carta eu começasse a te dizer assim:
Era de tarde quase noite, não cheguei a tempo do por do sol, desta vez eu não lamentei a falta de luz, no fundo a falta de luz sempre é inevitável.
Preciso de urgência, da tua urgência, agora é a estação.
Era fatal que nessa hora olhássemos juntos a escuridão e que reparássemos no claro que a noite faz quando nos acostumamos com ela, o claro-escuro de sombras, que reparássemos primeiro a lua, que dissemos juntos: “La luna” e de repente entre o estranhamento de gostar, espreitando alguma passagem de luz, encostássemos as mãos.
Território escorregadio o outro, não esperado.
Era para eu ter dito:
Fiz meu caminho... Estou exatamente como quero estar, com exatamente isso que sinto.
Uma representação feita de não imagens, obscurecido...
Sou vez em quando homem de muitas palavras...
Não, sou vez em quando o avesso do que quero...
E pensei em ti dizer que não, não quero me reinventar a cada passo, não quero estar presente o tempo todo, não suporto essas regras de convivência, não tolero perguntas... Acabei de me afastar de alguém que antes era tudo o que eu queria, acabei de acabar algo que nem comecei e já perdi.
Estou exatamente como quero agora estar.
E vi tua natureza...Não conheço essas terras, enquanto eu instaurava regras sobre como não posso ser, sobre como não suportaria a vida se ela me fosse claustro...
Te vi novamente,aérea, balançando com o vento, da nuca até a curva do ombro os pelos um a um me lembravam bambuzais, a displicência era tanta que eu, descontraído descobri que estava livre, e ri tanto do que nunca mais seria possível ser, e ri tanto que me doeu por dentro, e te vi e vendo tua natureza estranha eu quis... Eu quero nunca te conhecer.
Não idealizar
...
Acredito no silêncio, amor.
Atrevo-me em dizer “amor”, porque não tem jeito, é assim, simples assim.

Escrevo porque...
Era para eu saber a resposta, para nessa carta estarem escritas frases lúcidas sobre o amor, frases inimagináveis, frases coerentes, frases leves, frases ousadas, frases, frases, frases que diriam todas as palavras sobre o amor, que diriam.


Segundo movimento:
QUALQUER COISA PRÓXIMA DA VERDADE