quarta-feira, junho 20, 2007

...Overdoses...

Quando eu pousei meus olhos na terra eu era a terra.
Eu era as conversas passando, eu era os carros, era os edifícios em construção, eu era os pios, os chiados, eu era o casal que se beijava na praça, eu era o banco, era o cachorro magro, eu era cada susto, chance, pensamento, eu era cada respiração, queda, deslize, desejo, sensação, eu era a mentira, era a menina ávida por colo, eu era o olho d'água e também a folha seca, as gentes, tudo o que estava em cima eu era, era o horizonte, o sol eu era a lua que chegava devagar em formato de lasca de unha cortada, eu era os pontos, marcas, estrias na garganta, eu era o canteiro de maria sem vergonhas eu era essa voz , eu era a totalidade dos medos do mundo eu era o abrigo dos pobres, o umbigo cheio de remendo, era o molhado da chuva, o pé que arrasta o outro, eu era a margem, o pólo, era o cavalo, a casa, eu era palavra, o desencontro, o brilho do menino, era o longe, eu era as fases e o tempo do pulso eu era, era o meio fio, o desfiladeiro, era o sorriso da velha, eu era o que pedia, era quem desviava, era o homem baixo, o outro literário, uma outra esquiva, era todos esses dedos e também uma família toda eu era.

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