domingo, março 26, 2006

...pequenas doses...


Que se dane a falta que os outros trazem!

...pequenas doses...


No compasso do tempo

Certo tempo que se esvai...

Queria ser menos exigente

Única constatação em um dia frio

Estou só

sábado, março 25, 2006

...pequenas doses...


O meu formato água e sal

domingo, março 19, 2006

...pequenas doses...


O animal acorda
Silencia
Toma banho
Abre os olhos
Escova os dentes
Passa a existir
Acorda outro animal
Que também toma banho e escova os dentes
O animal veste uma roupa sem muita dificuldade
consulta agenda para saber o que fazer hoje
Resolve alguns problemas por telefone mesmo
O animal verifica as contas a pagar, o saldo no banco
O animal pensa em caminhar no parque para encontrar outros animais que são seus conhecidos...
O animal pensa em se distrair um pouco...
Anda muito nervoso nestes últimos dias...
Ligar para o animal que é o seu melhor amigo?
Discutir,filosofar,jogar conversa fora,ir para academia e exercitar-se como todo o animal faz?
Pode ser
O animal continua tomando decisões...
agora se alimenta um pouco
Sem muito deleite o animal engole sua presa, rasteja até seu carro e inicia a sua jornada- dia
E o dia passa...
Nada do que o animal pensou para o seu dia de fato aconteceu
Bem pelo contrário, o animal estava completamente equivocado sobre o seu planejamento
O animal meio confuso esquece que é animal e continua vivendo Volta para o seu habitat-casa
Continua esquecendo
Volta para o seu parceiro-animal-de -mesma- espécie
continua a esquecer-se
Volta até contente para suas crias
Que aos poucos e progressivamente também vão esquecê-lo
Volta para sua vida de animal
Volta
E volta
E o quê mais?
Não se pode dizer muito de um animal que tem tão pouco tempo.

quinta-feira, março 16, 2006

...Quando encontro agora...


Onde andarás?

Que terra será enfim o teu porto?

Que lábios serão a tua casa?

Que fazes da lua te farão uivar?

Em que estação sorrirás pelo simples ato de ser?

Quando terás tempo?

Porque nunca é agora?

Por quem vestes a melhor roupa?

Pelo o quê sonhas em segredo?

Quando encostas a palma da mão na face, o que guarda com tanto zelo?

Em que direção choras?

Quantos outros estão aí dentro?

O que te faz chover?

Que grito não destes?

Que silêncio?

Quem são os teus aliados?

Do que tens medo?

Qual é o teu canto?

Quantas palavras ainda faltam dizer?

Já foi possível perdoar?

Qual a lembrança que virou a tua salvação?

Já sabes que és mortal?

Por quantas tempestades atravessarás?

Quanta dor te fará desistir?

Que pergunta melhor a fazer?

Como posso te encontrar neste mundo?

Teremos tempo?

Será que assim é a melhor forma?

Você existe?

Ou eu...

Existo?

...pequenas doses...


Alguém está acordado?

quarta-feira, março 15, 2006

...pequenas doses...


Durante vários anos esperou respostas
Esperou...
Só tinha em mente que sua estadia nessa terra era curta demais...
Mas continuava de algum jeito esperando
De vez em quando vinha um pressentimento...
Uma sensação antiga de que veio a este mundo por alguma razão ...
Qual?
De seu próprio punho e letra, um dia escreveu assim:
"Não tem importância,o mundo ficou triste demais".

quarta-feira, março 08, 2006

...pequenas doses...


Melhor de três
No primeiro dia ele disse assim:
Meu nome é Serafim...
No segundo dia ele disse:
Serafim lembra?
No terceiro:
Seu Pai.

segunda-feira, março 06, 2006

...pequenas doses...


...
E um dia
Assim mesmo
O mundo amanhecerá sem mim.

sábado, março 04, 2006


Dia 31 de janeiro de 2006
Anotações de um dia comum

Acordo
Sou acordada
Quero preciso dormir
Acorda... Vem ver receber o homem das persianas, ele vai instalar as persianas nas janelas, levanta, vem tomar café, depois do café você precisa me ajudar a pegar o outro carro que está na concessionária, venha rápido, eu vou, vou já tomar café, passo margarina na torrada, ele diz pra Rita: Cadê o meu adoçante?
Ela não diz nada, nunca diz, morre de medo dele, ele fala meio satisfeito, Rita é a segunda vez que eu falo, da próxima vez eu desconto do seu salário! Ela continua a não dizer nada.
Eu levanto com a torrada na mão e encosto a barriga na janela que está cheia de almofadas tomando sol, eu encosto vejo um céu escuro, pra chover eu começo a chorar em cima da torrada, sem perceber continuo a comê-la, sem perceber eu choro alto e ele vem como quem diz, o que eu fiz? Eu no começo nem quis dizer nada, mas ele insiste e então eu falo com vontade: Você...você precisa tratar os outros melhor, principalmente quem cuida do seu lixo, quem trabalha pra você, porque você é tão impaciente com tudo? O que as pessoas te fizeram? Tudo está dentro de você, não desconte em ninguém, desse jeito à gente não vai muito longe mesmo, eu já estou cansada, e ele vendo que eu estava ameaçando concretamente, diz; Eu não fiz nada, eu recolho as lágrimas volto a mesa e tomo engasgada o meu café com leite já frio,
O homem das persianas chega, claro que ele parece feliz, ele é bem grande e largo e feliz e desenrola os modelos de persianas, brinca dizendo que elas vem da Pérsia, por isso chamam de persianas e eu amassada e estática esboço qualquer coisa como um sorriso, de repente eu já nem ouço mais nada, ao longe ouço uma questão que estão perguntando alguma coisa pra mim, que cor você quer? Branca ou bege?
Eu?
Branca ou bege?
Hum...
O homem me fala como se fosse um assunto muito importante de se resolver e diz, bom isso é trabalho seu né!
O que?
Decidir as cores!
Ah...Bege, bege está ótima... É mais cru né.

Ótima escolha o homem das persianas brinda o meu bom gosto, daqui a pouco ele, o meu homem, diz: Será que a gente coloca um toldo em vez de persianas nas janelas? Heim? É com o toldo o pessoal desse prédio nem vai enxergar nada, acho que pode ser melhor...
Querido decida você eu realmente não sei muito dessas coisas eu posso...
Persianas ou toldo?
Sem pestanejar eu digo: Toldo bege!
O homem mede dá instruções de como usar fala do prazo de entrega e instalação a Rita entra trazendo o suco de laranja que pedi a ela, encho o copo com o suco, coloco açúcar mascavo, fica intragável o gosto eu vou até a pia estou colocando o suco fora, quando a Rita me olha meio magoada eu digo que o suco estava ótimo, fico sem saber o que dizer pra ela...Ainda tenho outro compromisso com ele,o meu homem, ir na concessionária, enquanto me arrumo penso que não era ele, não era exatamente por causa dele que eu estava chorando, percebo que estou mais enrascada do que parece, porque se não é por ele é por quem? Eu chorei porque?

Vejo o céu e de repente vira um dia claro e azul, eu ainda estou cinza, entro no carro ainda em silêncio, ele também não faz questão de dizer nada, chegamos lá e fomos direto ao lugar onde se retira os carros do concerto, tem duas mulheres iguais no balcão, as duas executam os mesmos movimentos, as duas usam óculos, as duas tem o cabelo chanel e as duas são quarentonas loiras, e as duas que estão ao telefone continuam ao telefone por alguns minutos, até ele começar a girar no mesmo lugar e quando ele começa a girar no mesmo lugar eu sei que ele está ficando muito irritado, eu que já estava irritada com ele não estava gostando da possibilidade de imaginar que ele faria um escândalo e acenei para a mulher e ela fez sinal para esperar que já ia nos atender, depois de algum tempo ela vem e diz que não é com ela que a gente tem que tratar, mas com o João, muito bem diz ele, cadê o João? Ele agora não está, está no almoço!
O que? Bom, mas eu posso despachar se o senhor quiser...Minha senhora eu quero sim e agora. Então começou a odisséia para achar o carro que eles não sabiam onde estava, visto que foi o tal João que tratou disso, de repente vem vindo um homem grande para nos ajudar, tento achar o nome dele no crachá, ele nota que estou olhando fixamente para o crachá dele e diz: É exatamente esse o meu nome: Universo!
Como assim? Mesmo?

Eu não consegui fingir que era um nome normal!
É meu Pai, disse ele, foi um pouco egoísta neste sentido, me deu logo o nome de tudo!
Nossa que nome exótico o seu...Pensei seriamente em qual seria um possível apelido para ele...Uni...Uninho...Universinho...Eis que o Universo, no meio de tantos e tantos carros acha o nosso...eu me despeço, já bastante íntima do sujeito que não parava de falar que sua mulher lhe dissera: "Universo nós não estamos muito bem e precisamos repensar a nossa relação" eu consolei o Universo dizendo : Universo você parece bastante forte, irá superar isso...Por fim eu digo... Bom dia pra ti... Universo.

O Universo me sorri e acena muito satisfeito.

quinta-feira, março 02, 2006


O casco de um cavalo

Impiedoso
Coluna de sal
Um homem veste-se de homem
Amarelo marrom
Ternamente vestido
Vejo outro na rua tudo se iguala
Eu era antes ontem
Há pouco tempo
Não tenho métrica nem padrão nem rima
Faço e transtorno as palavras
Se elas pudessem sairiam correndo
Volto de longe
Longa data
Apelos sussurros e sonhos
Tudo se refaz
Menos o fim
O fim é fim e pronto
Tento ser mais primorosa objetiva
Mas tudo se assume como é.
Penso no homem
Fico monossilábica
Balbucio qualquer estímulo
Ele toma minha mão e reitera o lance
Que pacto cruel
Nem escapamos ilesos como gostaríamos
Falo que a morte é certa
Que não há o que temer diante disso
Justifico o delito
Mais um... penso
Mais quero mais
E revolvo o estômago
O corpo transpira viciado
O cabelo quase que se ajeita sozinho e se solta espalhando-se em torno da máscara
Um pisca o olho
De dentro respondo que sim
Mais uma vez
“Não me deixe”
Mais uma
Agora não assim nunca
Não simplifique as coisas
Diga que parece um sonho
Então exato sem muitos rodeios nomeia uma palavra cortante e encerra o diálogo
Eu digo que sim que sim que sim meu amor
Ilhas
Montes
Ruflar
Lírio
Escarlate
Névoa
Primavera
Quilha
Janelas
Raios
Campos molhados
Leve-me
Fluxo
Espuma
A lua sempre a lua
Teu olho
Não
Tem que haver uma saída
Alimente-me
A modernidade me dá sinais de que não é preciso mais criar
Tem-se tudo?
E o que é então?
Colossais
Salto fino
Uma boca lisa e vermelha
O não querer querendo tanto
Rubro
Diamante dos olhos
cálice
Um beijo de amor
A música que reúne as partes
Fundo do mar
Terra do fogo
Montes claros
Rio Grande Rio
Quero a palavra antiga meu Deus.
...
Aquela que continha sulcos graves de amores impossíveis
O mal do século
As pontes de Madison
Que me importa !
Crio um cenário cada vez mais exigente
Não venho aqui hoje falar da existência
Quero dizer breves e inexatas
eu amo- te
Parece prematuro demais?
Quase me espanto
Não tenho tido muito tempo
Episódio de tristeza
Recorte de procura de menos solidão
Mas antes eu te falava do gosto de maneira suportável
Saltamos ávidos e implacáveis
Desço a avenida
Seguindo fantasmas
Extasiada num estilo lento adentro minha condição
E dentro do barulho de tantas respirações com tanta intensidade
Adquiro a transparência de coisa nenhuma.

quarta-feira, março 01, 2006