quinta-feira, março 02, 2006


O casco de um cavalo

Impiedoso
Coluna de sal
Um homem veste-se de homem
Amarelo marrom
Ternamente vestido
Vejo outro na rua tudo se iguala
Eu era antes ontem
Há pouco tempo
Não tenho métrica nem padrão nem rima
Faço e transtorno as palavras
Se elas pudessem sairiam correndo
Volto de longe
Longa data
Apelos sussurros e sonhos
Tudo se refaz
Menos o fim
O fim é fim e pronto
Tento ser mais primorosa objetiva
Mas tudo se assume como é.
Penso no homem
Fico monossilábica
Balbucio qualquer estímulo
Ele toma minha mão e reitera o lance
Que pacto cruel
Nem escapamos ilesos como gostaríamos
Falo que a morte é certa
Que não há o que temer diante disso
Justifico o delito
Mais um... penso
Mais quero mais
E revolvo o estômago
O corpo transpira viciado
O cabelo quase que se ajeita sozinho e se solta espalhando-se em torno da máscara
Um pisca o olho
De dentro respondo que sim
Mais uma vez
“Não me deixe”
Mais uma
Agora não assim nunca
Não simplifique as coisas
Diga que parece um sonho
Então exato sem muitos rodeios nomeia uma palavra cortante e encerra o diálogo
Eu digo que sim que sim que sim meu amor
Ilhas
Montes
Ruflar
Lírio
Escarlate
Névoa
Primavera
Quilha
Janelas
Raios
Campos molhados
Leve-me
Fluxo
Espuma
A lua sempre a lua
Teu olho
Não
Tem que haver uma saída
Alimente-me
A modernidade me dá sinais de que não é preciso mais criar
Tem-se tudo?
E o que é então?
Colossais
Salto fino
Uma boca lisa e vermelha
O não querer querendo tanto
Rubro
Diamante dos olhos
cálice
Um beijo de amor
A música que reúne as partes
Fundo do mar
Terra do fogo
Montes claros
Rio Grande Rio
Quero a palavra antiga meu Deus.
...
Aquela que continha sulcos graves de amores impossíveis
O mal do século
As pontes de Madison
Que me importa !
Crio um cenário cada vez mais exigente
Não venho aqui hoje falar da existência
Quero dizer breves e inexatas
eu amo- te
Parece prematuro demais?
Quase me espanto
Não tenho tido muito tempo
Episódio de tristeza
Recorte de procura de menos solidão
Mas antes eu te falava do gosto de maneira suportável
Saltamos ávidos e implacáveis
Desço a avenida
Seguindo fantasmas
Extasiada num estilo lento adentro minha condição
E dentro do barulho de tantas respirações com tanta intensidade
Adquiro a transparência de coisa nenhuma.

3 comentários:

Cristiano Gouveia disse...

Ela sabe dos segredos que ninguém ensina...

Anônimo disse...

Ebulição fico eu agora com as tuas palavras, tu não tem a idéia a alegria que me dá quando recebo palavras tuas, e essas tão poéticas rasgaram meu
corpo inteiro.
Saudades suas muitas
Estou levando o texto pra casa e quero te escrever mais sobre ele.
Vamos fazer um sarau inebriante logo, viu?
E que seja muito doce pra você mulher que corre com os lobos e ama como as deusas
beijos emocionados

Anônimo disse...

Quantas vezes "Não me deixa"
por mim
por ele
que esse pacto cruel nos leve a algum lugar sólido onde possamos nos apoiar

e que subitamente eu ouça o casco do cavalo dessa amiga profeta poeta Medéia Blanche e Maria Carrar
E que esse casco possa sempre me trazer de volta ao dia calmo e claro.
Obrigada
Minha irmanita de alma vermelha