quinta-feira, abril 07, 2011

O mendigo que arrasta


O MENDIGO QUE ARRASTA

Hoje saí para viver um sábado. Aos sábados geralmente tem feirinhas muito pitorescas. Aprendi que aos sábados eu posso comprar coisas inúteis. Inúteis mesmo! são coisas que geralmente depois de muito tempo acumulando eu me desfaço. Desfaço sofrendo porque nunca aprendi a desapegar com facilidade. Facilidade tinha minha Mãe de adquirir doenças. Doenças são causadas pela distração. Distração é uma forma de ir se esquecendo de si mesmo e tanto e todos os dias, que até parece que faz parte distrair para esquecer. Esquecer... É um alívio meio burro que acontece quando eu tenho dor. Dor foi quando eu vi hoje aquele mendigo que arrasta. Arrasta a casa inteirinha nas costas. Costas cheias de dor e entulhos que ele foi acumulando pelo caminho. Caminho e vejo o mendigo. Mendigo não me vê. Vê apenas o próprio pé dentro de uma bota furada. Furada aparecendo os dedões. Dedões pretos. Pretos como a noite. Noite sempre me dá vontade de falar. Falar sempre é bom quando não se sabe calar a boca. Boca é uma caverna onde vive uma lesma que gosta de beijar. Beijar todas as partes sem descanso. Descanso só acontece depois que já fiz muitas coisas. Coisas para acalmar a minha cabeça. Cabeça é uma parte pequena e pesada, que às vezes tem formatos bem engraçados. Engraçados são as pessoas, disse a Mãe: vivem querendo saber quem são, e quando descobre quem são, descobrem que nunca deixaram de ser quem foram. Foram e Foi assim que um dia eu ri alto lendo um desses textos super positivos que ajudam nas horas tristes. Tristes mas que fazem parte. Parte de mim às vezes nunca volta para casa, fico perdida por aí e preciso até mesmo insistir para ficar de bem comigo. Comigo as coisas se manifestam intensamente. Intensamente sim, e é assim que me relaciono com o próximo. Próximo se assusta e sai correndo. Correndo perdemos oportunidades. Oportunidades acontecem a todo instante, ouvi em algum lugar. Lugar é um onde. Onde cheio de instantes. Instante como esse nunca existirá outro igual. Igual é uma palavra que eu acho que nem existe. Existe apenas para falar mentira. Mentira sempre conta boas histórias. Histórias aumentadas, cheias de imaginação que eu criava desde pequena. Pequena mas forte. Forte e boa para o trabalho. Trabalho tem que ser árduo. Árduo? Quem disse uma coisa dessas foi gente muito mula. Mula carrega coisas dos outros nas costas e as vezes tem seu próprio ritmo. Ritmo cada um tem o seu. Seu ritmo as vezes é muito lento. Lento me irrita porque é devagar. Devagar só aceito a tartaruga. Tartaruga tem pele fria e come que nem velha. Velha não se preocupa mais com os outros, anda à sua maneira. Maneira é só uma forma de dizer nem sei o quê. O quê é apenas uma forma de dizer qualquer coisa. Coisa eu acho que já falei sobre ela. Ela é algo que não tem nome, então eu digo “coisa” quando não quero especificar o que estou fazendo. Fazendo nem sei. Sei sim, mas não quero dizer agora. Agora estou apenas aqui e leve. Leve foi a mão que roubou a minha carteira. Carteira carrega uma monte de coisa que agente diz que é importante. Importante foi o encontro que vi entre dois beija-flores. Flores eu ganhei de uma amiga que queria perfumar a minha casa com lírios.Lírios na minha Casa cheia de entulhos. Entulhos é o acúmulo de ter que ter. Ter é um vício. Vicio, larguei quando descobri que eu gostava de mim. Mim é uma criatura que às vezes não é eu. Eu sou uma criatura que não é mim. Mim e Eu às vezes fazem guerra. Guerra tem uma cor escura e aperta o coração. Coração é um órgão que custa para queimar. Queimar assim quando é cremado. Cremado é uma palavra que dá até água na boca, parece gostoso tomar uma café-cremado. Cremado me disseram corrigindo, é quando se morre. Morre e fim. Fim, eu disse que não existe. Existe sim disseram, as coisas tem fim, mas não é porque acabam que é o fim, eu disse. Disse isso e eu fui para casa pensar. Pensar eu faço muito e é tão traiçoeiro porque quase acredito no filme que meus pensamentos ficam dizendo. Dizendo coisas horríveis. Horríveis, falando mal de todo mundo. Mundo vez em quando é tão irreal. Irreal feito sonho. Sonho me dá água na boca, porque parece doce. Doce era minha vovó. Vovó me dava laço. Laço quando eu aprontava. Aprontava tanto quando era criança. Criança grande ela me chamava. Chamava e eu ria. Ria de todos. Todos ficavam bravos. Bravos porque eu ria da cara deles. Deles eu lembro apenas coisas poucas. Poucas e boas. Boas coisas criam memórias que inspiram. Inspiram até hoje. Hoje está sendo um dia morno. Morno mesmo de temperatura. Temperatura sempre guia meu ânimo. Ânimo vem de animado, que tem vida. Vida eu já falei? Mas vou me repetir porque só aprendo na repetição, falar da vida é sempre como é aquela palavra... Bizarro. Bizarro porque é curioso. Curioso as vezes cria em mim cenários que me fazem sofrer. Sofrer pela falta. Falta de alguém. Alguém para estar. Estar assim juntinho. Juntinho assim talvez até mesmo para casar. Casar, ter filhos na verdade me assusta. Assusta porque sempre vejo o fim das relações. Relações que duram pouco tempo. Tempo não tem silêncio. Silêncio é um instante sem palavras onde a mínima tentativa de escrever espanta a experiência, ufa. Ufa é uma onomatopéia. Onomatopéia é uma palavra engraçada mesmo, porque parece bicho, mas é palavra, palavra para contar um som. Som é tudo. Tudo e nada. Nada, começa a ficar filosófico demais e as vezes fica até chato. Chato é quando quem faz chatice não se dá conta. Conta é uma coisa chata feita de acumulo. Acumulo eu acho que já falei dele, mas é sempre bom lembrar. Lembrar de não esquecer que tudo o que acumulo demais acaba explodindo. Explodindo eu gritei alto; chega. Chega reverberou gritado dentro do ônibus. Ônibus lotado cheio de gente acumulada, me achando uma louca. Louca mesmo, mais eu nem liguei, porque quando quero desabafar, não preciso de hora marcada. Marcada é toda a minha cara. Cara esburacada feito à lua. Lua é uma bola prateada que tem suas fases. Fases eu tenho também, são apenas fases diferentes e são sempre bonitas de ver daqui de baixo. Baixo e constante são esses sons de dentro do meu corpo. Corpo é bom para ter conhecimento. Conhecimento através da matéria. Matéria é um acumulo de átomos que vibram. Vibram e iludem os olhos. OlhOs são duas bolas de cores diferentes que servem para ver as criações dos átomos. Átomos eu já falei, mas é bom lembrar que eles fazem a vida. Vida é. É sempre um mistério dar o próximo passo. Passo- a - passo danço e aprendo a calar. Calar para ouvir o coração. Coração parece piegas dizer que ele tem vontade própria. Própria como se fosse alguém diferente de mim, ele é eu e isso basta. Basta falar de coisas que suponho. Suponho muitos momentos ligadados ao futuro. Futuro é uma espera desligada da verdade. Verdade é deixar as claras tudo o que passa aqui dentro. Dentro é um onde quentinho e livre. Livre de todas as formas de fazer qualquer coisa. Coisa assim livre eu tento ser quando aceito o que é. É assim sem expectativa que o mendigo arrastava a casa nas costas,e quem sustentava sua caminhada era aquele pé preto dentro da bota furada. Furada no meio da rua a bota a pé. Pé eu fiquei vendo até sumir. Sumir no horizonte. Horizonte é uma larga despedida. Despedida eu ainda estou. Estou sem rumo. Rumo ao próximo plano. Plano vertical de preferência. Preferência parar agora com isso. Isso pare. Pare. Pare, parei.

Um comentário:

Tome Chá de Fita disse...

compre cordas... apenas para escalar, se necessário...