quinta-feira, janeiro 04, 2007

...pequenas doses...

Procurei a tua imagem...
pela rua, casa,
vulto pelo chão da sala,
no meu corpo dormente sem respiro,
procurei teu gosto em outros,
em épocas de mornidão.
Procurei nas falas o teu querer...
Éramos luminosos de nós...
Não?
Não sei mais daquele jeito,
eu já não sei mais daquele jeito,
desaprendi a violência das sensações
a truculência da própria realidade,
reorganizei o corpo empanturrado de imagens,
o coração esfolado contra o fundo colorido,
entro nas coisas,
choro escuro e inaudível,
choro de mim por nós,
entro novamente nas coisas,
desejo, corpo, lembrança,
família, venezianas,
escolhas,
e em tudo nada me detém,
em tudo nada me agiganta.
Sufoco no silêncio,
apertada e espremida pelo espaço,
não entendo as dimensões do vazio,
ainda não entendo de rupturas,
de fragmentos, de desgastes, um deixar de ser,
ainda não entendo o quanto é real...
E te vejo, canto de olho, um querer de volta,
um leve querer, de delicados espasmos,
de pés nos meus, e braços, pernas, a boca, olhares,
de leve o suspiro lento descompassado,
eu te olhava fixo e fundo,
espaço em branco,
falta, Ausência. Não permitimos passagem...
Isolei as entranhas com palavras e desfiz o vir a ser...
Não toleramos o acaso,
ainda vivemos precisamente,
ainda vivemos quase...
E nos dissipamos a dois.
Cúmplices na solidão.
Procuro abrigo em sigilo,
em dias de morno viver,
procuro o tamanho da voz dentro do peito,
o caminhar displicente,
o desvio do desejar,
o toque desatento,
meios-corpos,
a fusão dos corpos,
delírio de quem estranha,
um carrossel acariciando o próprio corpo...
nada adiante
ainda me encontro
tua...

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