terça-feira, janeiro 10, 2006

Pulamos o enredo? Na verdade não.


Pulamos o enredo?
Na verdade, não.

Era para ser uma carta.
Era, para nesta carta estarem escritas coisas sobre o amor.
Era.
Era tão previsível que nessa carta eu começasse a te dizer assim:
Era de tarde quase noite, não cheguei a tempo do por do sol, desta vez eu não lamentei a falta de luz, no fundo a falta de luz sempre é inevitável.
Preciso de urgência, da tua urgência, agora é a estação.
Era fatal que nessa hora olhássemos juntos a escuridão e que reparássemos no claro que a noite faz quando nos acostumamos com ela, o claro-escuro de sombras, que reparássemos primeiro a lua, que dissemos juntos: “La luna” e de repente entre o estranhamento de gostar, espreitando alguma passagem de luz, encostássemos as mãos.
Território escorregadio o outro, não esperado.
Era para eu ter dito:
Fiz meu caminho... Estou exatamente como quero estar, com exatamente isso que sinto.
Uma representação feita de não imagens, obscurecido...
Sou vez em quando homem de muitas palavras...
Não, sou vez em quando o avesso do que quero...
E pensei em ti dizer que não, não quero me reinventar a cada passo, não quero estar presente o tempo todo, não suporto essas regras de convivência, não tolero perguntas... Acabei de me afastar de alguém que antes era tudo o que eu queria, acabei de acabar algo que nem comecei e já perdi.
Estou exatamente como quero agora estar.
E vi tua natureza...Não conheço essas terras, enquanto eu instaurava regras sobre como não posso ser, sobre como não suportaria a vida se ela me fosse claustro...
Te vi novamente,aérea, balançando com o vento, da nuca até a curva do ombro os pelos um a um me lembravam bambuzais, a displicência era tanta que eu, descontraído descobri que estava livre, e ri tanto do que nunca mais seria possível ser, e ri tanto que me doeu por dentro, e te vi e vendo tua natureza estranha eu quis... Eu quero nunca te conhecer.
Não idealizar
...
Acredito no silêncio, amor.
Atrevo-me em dizer “amor”, porque não tem jeito, é assim, simples assim.

Escrevo porque...
Era para eu saber a resposta, para nessa carta estarem escritas frases lúcidas sobre o amor, frases inimagináveis, frases coerentes, frases leves, frases ousadas, frases, frases, frases que diriam todas as palavras sobre o amor, que diriam.


Segundo movimento:
QUALQUER COISA PRÓXIMA DA VERDADE

Um comentário:

Anônimo disse...

...
Beijos
e mais mais
...