quinta-feira, janeiro 12, 2006


Só em ser

Pensei sério no que poderia ser.
Tentei me organizar como qualquer um faria. Tenho uma mente incansável, precisa de ordem para respirar.
Pensei nitidamente, coisa que me é sempre turva, apesar de não querer que seja assim, sou. Reorganizei o que dizer por ordem de importância... Desisti.
O que tem importância? Fui para o momento do encontro, o fatídico momento do querer pra mim. Eu não quis aquilo, eu não quis o beijo, mas o beijo aconteceu, então eu comecei a querê-lo como meu, mas o beijo e tudo o que vem depois não se pode ter então o que se pode?
Ouvi dizer, nesse tempo em que a gente vive hoje, que se pode ter tudo o que não se poderia ter nos tempos passados, porque hoje é o tempo moderno, o tempo em que não somos reprimidas porque usamos saias curtas, não somos apedrejadas quando amamos os iguais e lemos com freqüência dizeres de magia.
Relembrei que me entreguei por um desejo de me sentir desejosa e não foi prazerosa a violência da entrega sem os fios do amor, eu fiquei paralisando enquanto as carnes se rebatiam como quando tentamos arrancar do outro o que o outro não é. Mas como nunca digo “não” na hora em que sou invadida por ignorar minha natureza, deixei que esse encontro fosse nosso segredo, que fosse nossa forma de rebeldia-libertária, como se eu pudesse me vingar da forma...
Pré-histórica como penso que seja o amor e seus fios que me destroçam, eu quis quero não ter os fios.
Levei tempo e tempo me levou até a descoberta do fim.
Pensei nos ciclos e nas historias que se repetem e repetem e repetem...
O que eu não deixo acabar eu aprisiono e me aprisiono lá... No outro.
Quantos outros eu mantenho aqui dentro?
Quando o barco está sobrecarregando é que se pensa em como sobreviver com ou sem a carga. Sou apegada ao apego então me diz quantos quilômetros eu corri até chegar onde?
Estou trancada na vasta perplexidade da tua influência intranqüila, do teu medo de me encontrar novamente,
O que é? O que está ai?
Quando o calar aconteceu entre-nós eu pensei em fazer o possível dentro do que sinto impossível e me perdi...
Porque a natureza do teu silencio foi ruidosa e terrível demais.
Continuar a viver a ser a existir.
Degolando falas, emudeces.
Eu e tu não soamos mais.
E a recusa dos fios formam a casca, o corpo.
Parece que calas enquanto existo sem trégua.
E eu já não sei.
Faz tanto tempo que não.

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